A série, que teve a sua estreia nos EUA em 26-11-2008, não é absolutamente cativante logo no primeiro episódio. Para mim não foi fácil compreender aquele mundo dos bikers, do MC, do tráfico de armas, das regras do grupo, etc. Lá diz o ditado "primeiro estranha-se, depois entranha-se" e passados 2 ou 3 episódios SOA era uma janela aberta.
"Sons of Anarchy" está carregada de violência, de muito humor negro e a história mostra-nos o dia-a-dia de um clube de
bikers, os
Sons of Anarchy MC ou
SAMCRO (Sons of Anarchy Motorcycle Club Redwood Original), também apelidados de
Sam Crow (o nome inicial da série era Forever Sam Crow), que são actualmente liderados por uma família de uma pequena cidade do norte da Califórnia com o nome fictício de "
Charming".
O clube foi fundado por John Teller e por um grupo de ex-combatentes da Guerra do Vietnam nos anos 60 e nasceu com o objectivo claro de proteger a comunidade onde estavam inseridos e de difundir um ideal de vida em sociedade muito próprio.
Com o passar dos anos
Sam Crow entrou em decadência, perdeu identidade e o grupo cedeu à marginalidade. Nos dias de hoje eles controlam "
Charming" através da intimidação e subsistem sobretudo devido ao contrabando ilegal de armas que, sem qualquer pejo, vendem ao grupo terrorista irlandês IRA e a outros grupos mafiosos, incluindo chineses e italianos, bem como a outros gangues formados por latinos e afro-americanos.
Perante este cenário, o actual vice-presidente do grupo Jax Teller (
Charlie Hunnam) começa a questionar os valores e o rumo do clube fundado pelo seu pai Jonh Teller, já falecido. Esta sua atitude leva-o a entrar em constante conflito com o padrasto e actual Presidente do clube Clay Morrow (
Ron Perlman), sobre o qual recaem suspeitas de que terá morto o pai de Jax, com a cumplicidade de Gemma Teller Morrow (
Katey Sagal), mãe de Jax.
Kurt Sutter, o criador da série, já admitiu que se inspirou em
Hamlet e
Macbeth, ambas de
William Shakespeare, o que não deixa de ser curioso.
A primeira temporada alcançou um número inesperado de telespectadores nos EUA (cerca de 5,4 milhões de telespectadores semanais), e tornou-se o maior sucesso do canal FX americano desde "The Shield".
A segunda temporada, que terminou nos EUA em Dezembro de 2009, bateu todos os recordes de audiências de outras séries do canal FX, como "Damages" ou "Rescue Me" e foi considerada por muitos críticos de televisão como a melhor série em exibição no ano de 2009. Muitos deles defenderam a nomeação da série e da actriz Katey Sagal para os Globos de Ouro, o que não veio a suceder.
Neste momento a série encontra-se em processo de filmagens e produção da Temporada 3 (com regresso ao FX americano marcado para Setembro)
Em Portugal o caminho que "Sons of Anarchy" percorreu desde 2008 até aos dias de hoje foi extremamente lento. De completamente desconhecida no início, onde apenas alguns fãs acompanhavam através da (inevitável) Internet, com o recurso a legendas produzidas de forma independente (no Brasil primeiro e adaptadas depois em Portugal por amadores), passando pela criação espontânea do blogue português de fãs da série, o
SONS OF ANARCHY PORTUGAL, em Outubro de 2009, até à estreia da Temporada 1 no canal FX Portugal em 1 de Março de 2010.
Apesar da pouca divulgação, a série tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos.
Muitos me perguntam o que tem esta série de tão especial e o porquê de dedicar parte do meu tempo a ver, comentar e divulgar a série. A resposta não é fácil, até porque a experiência diz-me que uma série de televisão, seja ela de que género for, não cativa tudo e todos da mesma forma.
Pessoalmente "Sons of Anarchy" veio preencher uma lacuna ou um certo vazio no que a agressividade e violência diz respeito. Em comparação com outras séries que eu acompanhava na altura da sua estreia (2008), tais como "Lost", "Prison Break" ou "House MD", "Sons of Anarchy" ganhava aos pontos: um bom drama violento, carregado de (bom) humor negro, num ambiente de tensão, aliviado aqui e ali com pormenores relaxantes e deliciosos.
Eu precisava, sobretudo, de não estar constantemente ansioso com a conclusão da história exibida no episódio da semana anterior, onde nunca obtinha respostas mas antes (e apenas) nova perguntas, dando cada vez mais cambalhotas com o cérebro.
E foi assim que esta série se tornou no meu
guilty pleasure semanal, o qual tratei de divulgar o mais possível para que outras pessoas pudessem sentir o mesmo que eu e pudéssemos trocar ideias.
Curioso foi encontrar pessoas que, tendo acompanhado anteriormente uma outra série de excelência como foi "The Shield" (que contou também com Kurt Sutter como co-produtor), não hesitaram em estabelecer paralelismos que são evidentes com "Sons of Anarchy", o que me levou a ver posteriormente a série, que eu considero
perfeita.
Será que "Sons of Anarchy" veio para ocupar o lugar deixado vazio por "The Shield"? Eu diria que ainda está longe disso em termos de qualidade, mas está muito próxima em termos de interesse.
Sem esquecer os enormes desempenhos de Katey Sagal e Ron Perlman (magistrais a todos os níveis), o meu destaque ao nível de actores vai para o papel de Charlie Hunnam, um actor jovem, que certamente ainda tem muito para aprender e evoluir, mas que representa o espírito rebelde do anti-herói que é muito raro de ver nos dias de hoje, muito na linha do seu personagem do filme "
Green Street Hooligans" (2005) onde contracenava com Elijah Wood, e que para mim foi um dos melhores filmes daquele ano.
Sinceramente, eu não consigo encontrar mais argumentos para vos convencer a ver a série. Apenas vos digo que vale a pena e que não é pelas motas ou pela cultura
biker associada. Ela é muito mais do que isso.
Se ainda não tiveram a oportunidade de ver, não percam a oportunidade! Já não se fazem muitas séries de tv como esta.